Ontem meus olhos ficaram ardendo.
Não sei se era a poluição, ou alguma outra coisa. Fui até a farmácia comprar
colírio. Pensei comigo: “Faz um tempão que não compro colírios”.
Quando me adentrei esqueci o que queria ali. Comecei a olhar algumas
prateleiras com shampoos para os cabelos que me faltam, olhei também as fotos
dos cabelos coloridos nas caixas de tintas, avistei pilhas e pilhas
de vitaminas. Pensei: “estou precisando tomar isto”. Continuei a andar até que
uma moça bem educada com um avental branco que me ofereceu uma cestinha. Aceitei
pela educação. E continuei a olhar as prateleiras: aspirinas, somrisal, anador,
advil, dipirona, resprin, bufferin, novalgina, benegripe. “Faz tempo que não
tomo benegripe”, pensei novamente. Atravessei o segundo corredor rumo ao
balcão, quando avistei um pote de gel para as mãos. Lembrei que o governo fez
uma campanha tempos atrás sobre a importância de higienizar as mãos para evitar
doenças e sempre ter um destes produtos consigo. “Vou deixar no carro”, pensei e logo coloquei
na cestinha. Bem ao lado tinha uma promoção de shampoos com duas cabeças do
homem aranha. A cabeça vermelha era o shampoo e a preta com o novo uniforme do
aracnídeo era o condicionador, os dois por apenas R$ 9,99. Coloquei a caixa com
os dois produtos na cestinha. Em seguida vi outra promoção: a vitamina Centrum
extra plus, com novos sais minerais e vitaminas com suplementos extras, por R$
115,99, coloquei na cestinha, pois tenho que cuidar da minha saúde. Fui ao
caixa satisfeito pelos achados, na fila, ainda vi uma mega promoção do sabonete
phebo, uma caixa com 10 unidades por R$29,99, peguei um... Cheirei... Coloquei
na mesma cestinha. Paguei a conta no cartão em três vezes sem juros. Atravessei
a rua, entrei no carro, fui para casa. Ao abrir a porta de casa, os olhos ardiam ainda
mais. “Preciso ir à farmácia comprar remédio”, pensei.
Não tinha o que fazer. Resolveu correr. Depois de um tempo, não tinha pra onde olhar, viu o mar. Voltou para casa. Não tinha o que vestir. Resolveu ficar em casa. Não tinha quem o escutasse. Ligou o rádio. Depois de um tempo, saiu. Voltou à tarde quando sua esposa já tinha chegado. Beijou, jantou e ligou o chuveiro. Sem se molhar, se olhou no espelho. Mãos, pés, calças, joelho, cueca, braços, camisa, perna... Jogados no chão. O vapor da água quente lembrava uma neblina, sem ver, se levantou, resolveu colocar a cabeça debaixo do chuveiro... Escorregou. Caiu com o queixo no piso molhado. Barulho! A esposa bate na porta. Ta tudo bem? Sem responder se levantou. Deixou a água bater em seu rosto. Abriu a boca e engoliu a água quente, como se fosse à cura. Ta tudo bem aí? Sentou no piso. A água agora batia em suas costas. Lembrou de onde vinha... De quanto a sua roupa estava suja. Pecado! Doía sua mente. Culpa. Ta tudo bem aí? Pegou a sabonete como se fosse um ritual. Esfregou o sabão no
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