Não tinha o que fazer. Resolveu correr. Depois de um tempo,
não tinha pra onde olhar, viu o mar. Voltou para casa. Não tinha o que vestir.
Resolveu ficar em casa. Não tinha quem o escutasse. Ligou o rádio. Depois de um
tempo, saiu. Voltou à tarde quando sua esposa já tinha chegado. Beijou, jantou
e ligou o chuveiro. Sem se molhar, se olhou no espelho. Mãos, pés, calças,
joelho, cueca, braços, camisa, perna... Jogados no chão. O vapor da água quente
lembrava uma neblina, sem ver, se levantou, resolveu colocar a cabeça debaixo
do chuveiro... Escorregou. Caiu com o queixo no piso molhado. Barulho! A esposa
bate na porta. Ta tudo bem? Sem responder se levantou. Deixou a água bater em
seu rosto. Abriu a boca e engoliu a água quente, como se fosse à cura. Ta tudo bem
aí? Sentou no piso. A água agora batia em suas costas. Lembrou de onde vinha...
De quanto a sua roupa estava suja. Pecado! Doía sua mente. Culpa. Ta tudo bem
aí? Pegou a sabonete como se fosse um ritual. Esfregou o sabão no pinto, como
se lavasse o pecado. Sorriu! Resolveu encostar seu corpo na parede e olhou para
baixo a procura do membro. Não viu. Tou gordo. Ta acontecendo alguma coisa?
Desligou o chuveiro. Lembrou que estava na rua quando resolveu se aventurar.
Pegou um táxi. Pagou e deixou gorjeta. Andou pela calçada da augusta até
encontrar uma sauna. Pague dez e ganhe uma dose grátis. Ouviu isso de um homem.
Entrou. Nas escadas escuras desceu. Iluminação vermelha. Músicas de batidas
rápidas se misturavam com a do coração. Vamos? Ouvir o convite de uma garota
com cara de 13 anos. Ignorou. Pagou o que devia e bebeu o que tinha direito.
Saiu. Sentiu-se mal. Depois de ser visto saindo daquele local por transeuntes,
sentiu-se bem. Sorriu. Lembrou que o trabalho no escritório foi um saco.
Demitiu o chefe. Demitiu o emprego. Começou a se enxugar. Devagar. Enrolou-se
na toalha e abriu a porta do banheiro. Saiu. Ta tudo bem? Foi direto ao quarto
e procurou por roupas sem marcas. Ta tudo bem? Tou falando com você! Vestiu uma
camisa. Ficou mudo é? Voltou ao banheiro para resgatar as roupas sujas.
Colocou-as no sexto onde a empregada iria lavar no dia seguinte. Por que você
faz isso? Ligou a TV e começou a zapear. Me escuta! O que está acontecendo?
Suspirou. Pensou... Palavras vazias são melhores recitadas na mente. Você é um
otário, há tempos te observo. Fala comigo! O silêncio ainda era a resposta.
Aconteceu alguma coisa? Porque você está assim? Virou o rosto a encarou
agarrou-a pelo cabelo com força. Puxou-a para seu corpo e depois a jogou na
parede. Beijou-a com força. Pediu desculpas. Ela, sem aceitar consentiu o
prazer. Depois pediu desculpas a Deus. Ele confessou que não tinha mais
trabalho. Ela confessou a gravidez. Ele disse estar contente. Ela resolveu ir
ao chuveiro. Ele a seguiu. E no vapor da água quente ouviram a água cair sobre
os corpos. Sem palavras, sem perdão, sem culpa. Foi isso que ele pensou em
escrever.
Camisa social rosa abotoada até o penúltimo botão, calça social preta, gel no penteado, uma sacola com um embrulho de presente junto com um buquê de flores. Na mesa uma bandeja do seu fast food favorito com um big mac, uma coca-cola e batas fritas grande. Rosana que aguardava por seu marido junto com seu bebê, reparou no sujeito que comia o lanche impacientemente. O bebê de Rosana começou a chorar, o colocou no carrinho e o levou até o trocador mais próximo que ficava no corredor à direita do shopping, em frente à praça de alimentação. Foi até o local, limpou o menino e retornou à praça no mesmo assento de onde tinha saído. Em frente ainda estava o rapaz com o presente e as flores, mas já não havia o refrigerante, nem as batatas, apenas o big mac. O telefone de Rosana tocou e resolveu deixar o local por conta do barulho, foi até um local próximo aos banheiros onde podia falar ao telefone, sem ser incomodada com os ruídos do shopping. Era seu marido que acabara de estacionar
Comentários
Postar um comentário